De Macapá para Recife

“Quando eu me acordo peço a Deus que me dê força nessa batalha”, disse Neide Oliveira de 28 anos. Batalha que ela enfrenta há um ano, depois que descobriu que um dos cinco filhos estava com câncer no pescoço e no pulmão. Natural de Macapá, Neide e Natanael de seis anos viajaram para o Recife em busca de tratamento. O percurso foi longo e arriscado. No aeroporto do Recife Neide não sabia para onde ia. Era primeiro de janeiro de 2010 quando um casal desconhecido os ajudaram a chegar ao Hospital do Câncer. Este mesmo casal livrou Neide e Natanael de serem assaltados no metrô do Recife.


Depois de horas de viagem sem bebida e alimentação Neide e Natanael foram acolhidos por Dona Helena na Pousada e Abrigo Filhos de Deus no bairro de Santo Amaro. Em janeiro deste ano, o pequeno garoto começou a fazer exames e a quimioterapia. A primeira biopsia constatou que o câncer no pescoço estava com oito centímetros e no pulmão com mais de dez centímetros. Hoje a alegria está estampada no rosto dessa família. O câncer no pescoço reduziu para um centímetro e no pulmão também diminuiu; na próxima semana será divulgado o exame do pulmão, mas sabe-se que o local não está comprometido. “Foi uma bênção de Deus, é um milagre”, comemora Neide.


Todos os dias a mãe fala com os filhos que moram em Macapá. “Há seis meses quando sai da minha cidade eu disse aos meu filhos que ia cuidar do Natanael e a mamãe voltava com o irmãozinho curado”, desabafou Neide. O marido faleceu há dois meses de enfarte fulminante. Nesse momento as lágrimas escorrem pelo rosto de Neide. Com saudade e chorando ela falou: “meus filhos é a coisa mais preciosa da vida”. Os médicos daqui orientaram não falar sobre a triste notícia do pai para não atrapalhar os procedimentos. Natanael sempre lembra do pai e diz que vai ser o espelho dele.


No meio da entrevista Natanael aparece com o sorriso no rosto, aperta a minha mão e curioso pergunta o que estou escrevendo. Ele mostrou os carrinhos que ganhou da mãe durante um passeio no shopping. Ainda falou que foi à praia e estendeu o bracinho mostrando que levou injeção por causa do tratamento. “Tenho medo que meus dentes caiam e também tenho um sonho de voltar para casa com a minha mãe e ver minha família”, disse Natanael sentado ao meu lado. Os efeitos colaterais dos exames são os dentes que estão amolecendo. Em compensação ele não teve queda de cabelo. Inteligente, o pequeno de seis anos explica que Macapá foi separada pelo rio Amazonas e conta quantas horas levou de avião e barco para chegar ao Recife.


Segundo os médicos Neide e Natanael ficam no Recife até outubro deste ano. “Antes de outubro eu volto para casa, muito antes, com meu filho... minha fé é inabalável”, emocionou-se. Sentada na calçada Neide afirma que não quer dinheiro, e sim, felicidade.


“Minha vida hoje não está ruim, está boa, meu filho está melhorando... a gente cai hoje para levantar amanhã”. Assim, finalizo a história com essa mensagem de uma família vencedora.


Priscilla Cavalcanti

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